sábado, 24 de dezembro de 2011

Posso comemorar o Natal sendo budista?


Para um budista iniciante, as tradicionais de festas como o Natal podem trazer um pouco de confusão, tanto espiritualmente quanto emocionalmente. Posso celebrar o Natal, mesmo que eu seja um budista? Posso dar presentes de Natal ou enviar cartões de Natal? E o que eu faço quando for convidado para festas de Natal?

As respostas a perguntas como estas são, naturalmente, a preferência pessoal. Mas um pouco de informação pode fazer a transição para o budismo mais suave, especialmente quando se torna claro que o budismo pode coexistir pacificamente na vida de uma pessoa com outra religião. Congratulando-se com o budismo em sua vida não significa que é necessário renunciar a outras conexões religiosas, na verdade, o budismo pode ajudar a melhorar as ligações de uma com a outra.

Eu ainda devo celebrar o Natal?

Considerando as origens do Natal, ennquanto muitos adoram o nascimento de Cristo no natal, o feriado originalmente era em homenagem ao solstício de inverno. A árvore de Natal, embora a verdadeira origem não seja precisamente conhecida, acredita-se ser de origem pagã, essencialmente “cristianizada” através da conversão de várias sociedades ao cristianismo.

Natal moderno, pelo menos nos EUA, é em grande parte comercial, com crianças gritando sobre brinquedos do ano e outros desejos, ou então chorando e jogando fora quando suas exigências não são cumpridas na manhã de Natal. O enorme grupo de vendas Black Friday entre outras, dizem às pessoas que é importante comprar, comprar, comprar, dar, dar, dar.

Enquanto alguns mantêm suas tradicionais práticas cristãs, para muitos não é só isso. Curiosamente, os japoneses são essencialmente budistas, xintoísta, e geralmente uma combinação dos dois, mas eles celebram o Natal na forma de pequena troca de presentes, festas modestas com parentes e amigos, bolo de natal, e uma refeição ao estilo ocidental.

Ensinamentos budistas na época do Natal

A decisão de celebrar o Natal se deve a cada indivíduo. Se desejar adicionar uma influência budista para as celebrações do feriado, talvez você possa incorporar lições budistas tiradas de histórias de Natal.

E talvez, se possível, tentar fazer com que o natal seja o menos materialista possível; no Budismo, apesar de tudo, ensina que devemos estar conscientes do que já possuímos, de forma que desejar algo que não podemos ter, só nos faz sofrer.

Tradução livre daqui.

O Natal dos Simpsons



Presentes sob a Árvore Boddhi


No episódio dos Simpson “She of Little Faith”, Lisa entra em crise com sua fé e se converte ao Buddhismo, o Reverendo Lovejoy tenta dissuadi-la dizendo que ela não pode mais celebrar o Natal porque “Papai Noel não deixa presentes embaixo da Árvore Boddhi”.


Então Lisa visita o “Templo Buddhista de Springfield” onde Lenny, Carl e Richard Gere estão meditando e recebe um conselho excelente:


Gere: … Buddistas respeitam a diversidade de religiões, consideram válida toda religião baseada no amor e compaixão.

Lisa: … Como é… ?!

Gere: … É verdade. Então porque você não volta para casa? Estou certo que sua família sente sua falta.

Lisa: … Eu posso mesmo celebrar o Natal?

Gere: … Você pode celebrar qualquer data. E, não esqueça, meu aniversário é 31 de agosto -

Então, se você ainda estava preocupada, relaxe… Você pode comer panetone e peru de Natal e ainda manter-se buddhista :-).

Mas seja rápida pois ambos estão sujeitos a impermanência e pode não sobrar um pedaço para você.

Já as tortas e bolos podem levar à compreensão que não existe uma diferença inerente entre um objeto de apego e um objeto de aversão, só depende de quantas fatias você já comeu…


Adaptado de “Can Buddhists Celebrate Christmas?”

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Meditação apaga áreas cerebrais


Pesquisa mostra que praticantes frequentes da meditação têm mais facilidade para excluir o “eu” das suas divagações

Pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, comprovaram, com a ajuda de imagens, que a meditação frequente desconecta as áreas do cérebro relacionadas com o “sonhar acordado” e divagações, assim como as que têm ligação com transtornos psiquiátricos como o autismo e a esquizofrenia.

Em geral, os pensamentos de divagação tendem a se focar em temas negativos, criando mais estresse e ansiedade.

Enquanto voluntários realizavam três técnicas de reflexão diferentes, o professor de psiquiatria Judson Brewer e sua equipe descobriram que os mais experientes mostravam uma diminuição na atividade das áreas cerebrais relacionadas a transtornos como déficit de atenção, ansiedade, hiperatividade e inclusive o acúmulo de placas de beta-amilóide na doença de Alzheimer.

A diminuição de atividade nesta rede, que abrange o córtex posterior e o córtex pré-frontal, foi observado nos experimentos, independente de quem estava praticando a meditação. A análise mostrou também que em geral, quando há meditação, as regiões do cérebro associadas com o controle cognitivo se ativam. Isso pode indicar que os praticantes frequentes da meditação estão em constante vigilância, e suprimem a aparição do “eu” nos pensamentos e divagações.

Durante o estudo, os voluntários foram convidados a participar de três tipos diferentes de meditação e ao longo do processo os cientistas puderam examinar a atividade cerebral com imagens de uma ressonância magnética.


Fonte: Universia Brasil

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Descanse na experiência do momento presente


Diálogo entre um buscador incansável e a vida:

- ‘Onde está minha verdadeira Casa? Quando meu sofrimento vai acabar?’, o buscador nostálgico pergunta.

- ‘Você já está em casa’, responde a Vida, ‘mesmo no meio da sua dor‘.

- ‘Mas eu não consigo ver isso agora!’, responde o buscador.

- ‘Claro que você não pode’, responde a Vida. ‘Por isso desista de tentar vê-la no futuro. Simplesmente descanse nesta experiência do momento presente de ser incapaz de ver. Descubra que você está em Casa mesmo nessa sensação presente de nostalgia, mesmo nessa frustração, mesmo no seu fracasso de escapar a este momento. Para quem isso tudo esta aparecendo exatamente agora?‘

(Jeff Foster)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Movimento Occupy, por Michael Stone



Vídeo com legendas em português sobre o 'Occupy Movement'
com o ativista, professor de Yoga, Budismo e psicoterapeuta canadense Michael Stone, do Occupy Vancouver e Occupy Samsara

“Mudança social não acontece apenas por persuação, e não acontece por pequenos pedaços de barulho, e também não acontece pelo Twitter. Acontece porque realmente trazemos nossos corpos aqui, cara a cara com os outros, e realizamos a mudança ouvindo e sonhando juntos“.

Amor não é só um sentimento, é o que emerge quando damos um ao outro nosso rosto, e nós damos uns aos outros nossa atenção e nós damos uns aos outros o espaço para realmente ouvir a diversidade de pontos-de-vista”.

“Acho que falamos tanto sobre diferença como algo que temos que tolerar, mas o que está acontecendo no movimento Occupy através do microfone humano, de reuniões gerais, de comitês, de alimentar pessoas, do desenvolvimento da economia da doação é que, no processo, estamos cultivando intimidade que está surgindo das diferenças, e essa intimidade é a faísca do que eu chamaria de amor, e é o que está nos carregando e é o que está nos aquecendo e é a razão pela qual nós vamos vencer.”

~ Michael Stone, Occupy Vancouver & Occupy Samsara

postado originalmente no dharmalog.com

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Os 5 Principais Arrependimentos de Pacientes Terminais


Bronnie Ware trabalha com pacientes perto do fim da sua vida – pacientes terminais. Neste post, ela escreve sobre os principais arrependimentos que vieram à tona aos seus pacientes em seu leito de morte. Os cincos principais seguem abaixo:

1. Eu gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim, e não a vida que os outros esperavam de mim.

Este foi o arrependimento mais comum. Quando as pessoas percebem que sua vida está quase no fim e olham para trás, é fácil ver como muitos sonhos não foram realizados. A maioria das pessoas não tinham honrado a metade dos seus sonhos e morreram sabendo que era devido às escolhas que fizeram, ou deixaram de fazer.

É muito importante tentar realizar pelo menos alguns de seus sonhos ao longo do caminho. A partir do momento que você perde a sua saúde, é tarde demais. Saúde traz uma liberdade que poucos percebem, até que já a não têm mais.

2. Eu gostaria de não ter trabalhado tanto.

Isto veio de todos os pacientes do sexo masculino que eu acompanhei. Eles perderam o crescimento de seus filhos e o companheirismo do parceiro. As mulheres também citaram este arrependimento, mas como a maioria era de uma geração menos recente, muitos dos pacientes do sexo feminino não tinham sido chefes de família. Todos os homens que eu acompanhei se arrependeram profundamente de passar tanto tempo da sua vida com foco excessivo no trabalho.

Ao simplificar o seu estilo de vida e fazer escolhas conscientes ao longo do caminho, é possível não ter que precisar de um salário tão alto quanto você acha. E criando mais espaço em sua vida, você se torna mais feliz e mais aberto a novas oportunidades, mais adequado ao seu novo estilo de vida.

3. Eu gostaria de ter tido a coragem de expressar meus sentimentos.

Muitas pessoas resguardaram seus sentimentos para manter a paz com os outros. Como resultado, tiveram uma existência medíocre e nunca se tornaram quem eram realmente capazes de ser. Muitas desenvolveram doenças relacionadas à amargura e ao ressentimento que carregavam, como resultado.

Nós não podemos controlar as reações dos outros. No entanto, embora as pessoas possam reagir quando você muda a maneira de falar com honestidade, no final a relação fica mais elevada e saudável. Se não ficar, é um relacionamento que não vale a pena guardar sentimentos ruins. Você ganha de qualquer maneira.

4. Eu gostaria de ter mantido contato com meus amigos.

Muitas vezes os pacientes terminais não percebiam os benefícios de ter por perto antigos e verdadeiros amigos até a semana da sua morte, e nem sempre foi possível encontrá-los. Muitos haviam se tornado tão centrados em suas próprias vidas que tinham deixado amizades de ouro se diluirem ao longo dos anos. Havia muitos arrependimentos por não dar atenção a estas amizades da forma como mereciam. Todos sentem falta de seus amigos quando estão morrendo.

É comum que qualquer um, em um estilo de vida agitado, deixe escapar amizades. Mas quando você se depara com a morte se aproximando, os detalhes caem por terra. Não é dinheiro, não é status, não é posse. Ao final, tudo se resume ao amor e relacionamentos. Isso é tudo o que resta nos dias finais: amor.

5. Eu gostaria de ter me deixado ser mais feliz.

Este é surpreendente. Muitos não perceberam, até ao final da sua vida, que a felicidade é uma escolha. Eles haviam ficado presos em velhos padrões e hábitos. O chamado “conforto”. O medo da mudança os faziam se fingir aos outros e a si mesmos, enquanto lá no fundo ansiavam rir e ter coisas alegres e boas na vida novamente.


Vida é escolha. A vida é SUA. Escolha com consciência, com sabedoria, com honestidade. Escolha ser feliz.

domingo, 30 de outubro de 2011

Presos na roda da vida


"Como conduzir o caminho para atingir este objetivo? Eis que a tarefa é
difícil! As condições de hoje não são tão distanciadas do passado quanto
a distância que separa o céu da terra. Como mesmo nos comparar aos
mestres do passado? Porém, aplicando-nos sem medir nosso sofrimento, não
há razão para não fazer tão bem e melhor que eles. Se isto não lhe
parece evidente, é porque você ainda não clareou seu espírito. Seus
pensamentos dispersos galopam como um cavalo selvagem e suas emoções
pulam como um macaco de galho em galho. Porém, quando esses fogosos e
dispersos pensamentos recuam e retornam sobre si mesmos, em apenas um
instante, nossa natureza original toma forma e todas as coisas ficam
iguais e em harmonia. É desta forma que giramos as coisas no lugar de
sermos girados por elas.”

Mestre Dogen Zenji (1200 - 1250)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

CONFLITOS SEM RAIVA


Pode parecer que obtemos mais energia da raiva do que da paciência. De fato, podemos nos viciar nessa energia, mas ela não dura. Se deixar levar pela energia da raiva é como tomar um drink para se acalmar; como você não chega realmente à origem da ansiedade, acaba bebendo mais um copo, e mais cedo ou mais tarde, fica viciada.
Para lidar com os conflitos sem raiva e com tato, é preciso saber como se valer das reservas mais profundas de compaixão. Conseguiremos proteger melhor os outros quando formos pacientes e amorosos. A paz interior se expressa externamente e afeta a todos ao nosso redor.

Se estivermos tomados pela fúria, não poderemos ajudar. A energia da raiva permeia tudo, como um cheiro pútrido. Sua influência vai além da vítima, da testemunha e do agressor. A raiva nos deixa rígidos, apegados demais ao nosso ponto de vista e nos faz perder as qualidades de pacificadores. A nossa paz interior cede à tensão da raiva, as pessoas que trabalham conosco sentem isso e seremos menos eficazes.
É necessário oferecer a todos os envolvidos o benefício de uma compreensão mais profunda, um modelo de amor e compaixão. Assim, conquistaremos a confiança das pessoas; seremos mais influentes e capazes de protegê-las.

Chagdud Tulku Rinpoche (Tibete, 1930 – Brasil, 2002):
“Para abrir o coração”, I | 4

sábado, 22 de outubro de 2011

Precisamos refletir



Milhões de animais já estão sendo preparados, confinados, aguardando o abate para os festejos de natal.

“Quando o homem aprender a respeitar até o menor ser, seja animal ou vegetal, ninguém precisará ensiná-lo a amar seu semelhante.”

Albert Schwweitzer (Nobel da Paz - 1952)

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

"A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê"


William Blake sabia disso e afirmou: "A árvore que o sábio vê não é a mesma árvore que o tolo vê". Sei disso por experiência própria. Quando vejo os ipês floridos, sinto-me como Moisés diante da sarça ardente: ali está uma epifania do sagrado. Mas uma mulher que vivia perto da minha casa decretou a morte de um ipê que florescia à frentehttp://www.blogger.com/img/blank.gif de sua casa porque ele sujava o chão, dava muito trabalho para a sua vassoura. Seus olhos não viam a beleza. Só viam o lixo.

Rubem Alves

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Por que palavras?


Um monge aproximou-se de seu mestre - que se encontrava em meditação no pátio do Templo à luz da lua - com uma grande dúvida:

"Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os Sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o Dharma está além dos termos, porque os termos são usados para defini-lo?"

O velho sábio respondeu: "As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não te preocupes com o dedo que a aponta."

O monge replicou: "Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?"

"Poderia," confirmou o mestre, "e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a lua por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. O Dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio."

"Então," o monge perguntou, "por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?"

"Porque," completou o sábio, "da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na Verdade já revelada, pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, elas podem ser valorizadas mais do que é necessário."

O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.

Conto Zen.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Natureza-búdica



“Nossa natureza-búdica está lá desde o início.
É como o sol emergindo de trás das nuvens.
É como um espelho que reflete perfeitamente quando está bem limpo…
…e voltado para sua claridade original.”

~ Ho-Shan

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Zazen por Bruno Mitih



Trailer do documentário de longa-metragem de Bruno Mitih sobre o zazen - meditação sentada. Bruno Mitih é fotógrafo, videomaker e monge zen ordenado pelo Reverendo Dosho Saikawa Roshi. Música Yoichi Okada e Francisco Casaverde.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

"A árvore existencialista da vida" de Malick



Em 'A Árvore da Vida' o diretor Terrence Malick nunca esconde suas altas ambições com a interrogação cósmica sobre a origem do universo e o sentido da vida, e é justamente aqui que seus conhecimentos e reflexões como filósofo de formação ficam mais evidentes.

A narrativa do filme, em boa parte, é uma viagem às memórias de Jack (Sean Penn), que visitam particularmente a infância passada no Texas, até a época em que seu irmão do meio morre na guerra do Vietnã.

E é justamente a morte do irmão que assombra Jack, e é um dos motores a levá-lo a uma indagação maior sobre o sentido da vida e a existência de Deus, no mundo impregnado de cristianismo em que ele cresceu.

Mas, dentro de seu coração, lutam os dois caminhos que o filme aponta desde o começo: o caminho da graça (encarnado pela mãe) e o da natureza (simbolizado pelo pai).

Este microcosmo representado por esta família, que é um protótipo da América dos anos 50, vista como um modelo de família de qualquer parte do mundo ocidental, e que é inserido no macrocosmo do mundo natural.

Após a exibição em Cannes, tentou-se classificar a produção como uma espécie de filme-espírita ou religioso, mas acho que só vê por este caminho quem de fato não compreendeu bem a intenção do diretor, já que não há defesa de dogmas, sejam eles católicos, evangélicos ou espíritas, há um ciclo de vida não só de uma família, mas também de um planeta.

O filme não segue uma estrutura linear ou didática, exigindo atenção e reflexão do espectador. Assim, traçar uma sinopse da história seria de um reducionismo imenso, cabendo ao espectador assistir à produção e tirar suas próprias conclusões.

As imagens vão fazendo sentido dentro daquilo a que a história se propõe, reavaliar a trajetória de um homem qualquer, por suas perguntas sobre si mesmo e sobre a vida.

Como disse o lendário cineasta Ingmar Bergman, muitos diretores ignoram o poder e a profundidade que uma expressão ou um gesto provoca no cinema. Estamos acostumados ao óbvio discurso de filmes mainstream, que tentam se explicar a cada frase.

A Árvore da Vida' é um filme belo, intenso, contemplativo e raro, pelo arco que se dispõe a atravessar, pelas camadas de sentido que suas imagens quase hipnóticas conseguem desdobrar a cada visão.

É tão belo que a tela do cinema ficou pequena demais.

domingo, 7 de agosto de 2011

Qual o seu verdadeiro EU?


"Assim que o sol da consciência brilha, naquele mesmo momento uma grande mudança acontece. A meditação deixa o sol da consciência levantar facilmente, assim podemos ver mais claramente. Quando meditamos, parecemos ter dois egos. Um é o rio corrente de pensamentos e sentimentos, e o outro é o sol da consciência que brilha neles. Qual deles é nosso eu? Qual é o verdadeiro? Qual é o falso? Qual é bom? Qual é ruim? Por favor tranqüilize-se, meu amigo. Abaixe sua espada afiada de pensamento conceitual. Não tenha pressa de cortar seu "eu" em dois. Ambos são eu. Nenhum é verdadeiro. Nenhum é falso. Eles são ambos verdadeiros e ambos falsos."

Thich Nhat Hanh

segunda-feira, 11 de julho de 2011

There's no spoon ...e o seu mundo!



Não tente entortar a colher. Isso é impossível. Em vez disso, apenas tente compreender a verdade.

Substituindo no diálogo original, a palavra "colher" por "mundo" e "entortar" por "mudar":

Garoto: Não tente mudar o mundo. Isto é impossível. Ao invés disto tente perceber a verdade.
Neo: Que verdade?
Garoto: Não há mundo.
Neo: Não há mundo?
Garoto: Então você verá que não é o mundo que muda, e sim você mesmo.

Nenhuma religião, ou filosofia tem tantas semelhanças com o filme Matrix-I quanto o budismo. O principal ponto em comum é a idéia de samsara ou maya, segundo a qual as nossas vidas são uma grande ilusão montada pelo nossos próprios desejos. É como se todo o mundo fosse, como diz Morpheus, "uma projeção mental da sua personalidade". As pessoas estariam presas em um ciclo: elas tratam o que sentem como se fosse real e a ignorância de que aquilo é só uma ilusão as mantém presas a esse mundo. Nesta cena do filme, Neo encontra uma criança com trajes de monge budista que entorta uma colher com a mente. O segredo, diz ela, é saber que a colher não existe. Uma vez superada a ilusão, atinge-se o nirvana, um estado que as palavras não podem descrever, em que a noção de indivíduo se perde.

No budismo, aprendemos que Sidharta Gautama era um príncipe hinduísta que abandonou seu castelo, sua esposa e seu filho para descobrir a causa de tanto sofrimento. Após alguns anos de ascetismo, meditou durante 7 dias embaixo de uma figueira tornando-se Buda (do sânscrito desperto, acordado) e descobriu que a razão do sofrimento seria, resumidamente, o apego e o desejo. A solução budista está em cada pessoa descobrir a sua própria "não-existência".

Segundo o budismo, o homem simplesmente deve entender que não existe o "eu". As últimas palavras de Buda, aos oitenta anos e antes de morrer de desinteria, foram: "tudo é impermanente".

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Microcosmos


Se abrirmos os olhos e olharmos para o universo, observaremos o sol, a lua, as estrelas no céu, montanhas, rios, plantas, animais, peixes, aves sobre a terra. Frio e calor manifestam-se alternadamente; o brilhar do sol muda com a chuva, de um momento para outro, sem nunca chegar a um fim. Mais uma vez, vamos fechar os olhos e calmamente refletir sobre nós mesmos. De manhã à noite, nós estamos com a nossa mente demasiadamente agitada pelos sentimentos de prazer e dor, amor e ódio; às vezes cheios de ambição e de vontade, às vezes chamado de grande emoção da razão e da vontade. Assim, a ação da mente é como uma questão infindável de uma nascente d’água. Tal como os fenômenos do mundo externo são diferentes e maravilhosas, assim como é a atitude interna da mente humana. Vamos pedir a explicação destes fenômenos maravilhosos? . . . Porque é que a mente é submetida à constante agitação? Para isto, o zen oferece apenas uma explicação, ou seja, a lei de causa e efeito!

--Soyen Shaku in Tricycle: The Buddhist Review, Summer 1993.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

"PENSO, LOGO NÃO EXISTO!"


Cientistas da mente derrubam a noção clássica de consciência

Eu não sou o que penso que sou, caro leitor, e você também não. Loucura? Pois é o que afirmam alguns dos mais talentosos e inquietos cientistas de nossos dias. À medida que mergulham no mistério da consciência humana, pesquisadores das áreas de neurociências, psicologia, filosofia da mente e ciências cognitivas estão criando teorias que desmontam a idéia, levada às últimas conseqüências pelo cartesianismo, de que existe uma consciência independente, separada do mundo, que está em algum lugar do nosso cérebro e que usa seu livre-arbítrio para fazer escolhas e viver a vida. Pura ilusão, dizem eles.

Na verdade, nossa mente abrigaria uma profusão de diferentes 'eus', que disputam espaço entre si, executam ações especializadas sem que saibamos e, mais impressionante, nos mantém na ilusão de que somos 'apenas um'. Na verdade idéias assim não são novas. Ensinamentos semelhantes sobre a natureza humana têm sido transmitidos há milhares de anos por diversas tradições do pensamento oriental, especialmente do budismo, que há 2600 anos ressalta o abismo entre a realidade e as idéias que temos dela. Quem acha que isso parece coisa de místico, vai se surpreender com a participação nesse debate de pesquisadores reconhecidamente céticos.

Fonte: Revista Galileu

domingo, 3 de julho de 2011

Sábio



- Mestre, como faço para me tornar um sábio?
- Boas escolhas .
- Mas como fazer boas escolhas?
- Experiência.
- E como adquirir experiência, mestre?
- Más escolhas.

Conto Zen.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Quais são os ensinamentos de Buda sobre o dinheiro?



Quais são os ensinamentos de Buda sobre o dinheiro? Veja o que diz a Monja Coen, da Comunidade Zen Budista.

Fonte

domingo, 19 de junho de 2011

O monge e o Macaco



Excelente curta de animação criado por dois alunos da instituição, Brendan Carroll e Fancesco Giroldini. "O monge e o Macaco" conta a história do jovem e determinado Ragu que é enviado por seu mestre para cumprir uma última tarefa antes de se tornar um monge. No entanto, o que parecia relativamente simples e fácil se converte em um verdadeiro desafio.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nada especial, simplesmente vivendo o zen


Trecho da carta da filha de Joko Beck Roshi (1916 - 2011):

Nossa mãe,
Joko, morreu pacificamente em 07:30 desta quarta-feira 15 de junho de 2011.

Isso é tudo por agora. Por agora, por favor, pense em algum ensinamento transmitido por ela que possa ter lhe ajudado a transformar em alguns aspectos da sua vida.

Gratidão a todos e obrigado por suas orações por uma passagem pacífica para a pessoa mais incrível que eu já conheci.

A última frase que ela disse foi:
“Isto também é maravilhoso.”

Gassho, Brenda Chiko.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Meditação produtiva



Conheça a empresa que levou seus funcionários a um templo budista, usou a doutrina como ferramenta de treinamento e criou o conceito de “personal monk”

A primeira regra era o silêncio absoluto. Não se admitia um pio, nem mesmo uma conversinha paralela, sussurrada que fosse, entre os jovens executivos que acabavam de entrar no templo budista de Barra do Sahy, no litoral paulista. Eles chegaram à noite, vindos de ônibus, da capital, com o propósito de participar de um retiro espiritual de dois dias. Após o jantar, deveriam se dirigir aos dormitórios, em grupos de seis ou sete, acomodando-se em colchonetes espalhados pelo chão. No dia seguinte, bem cedo, depois de arrumar os quartos, rumariam em fila e sempre em sepulcral quietude a uma das salas da casa. Era hora do exercício de alongamento, seguido de Zazen, uma espécie de meditação em que os integrantes ficam ajoelhados sobre almofadas, de frente para a parede, com os olhos semiabertos. “O Zazen é o momento único de cada um, a busca pela luz interior”, define Ângelo Palumbo, ou Anju, um aprendiz de monge da Zendo Brasil, comunidade zen-budista criada há dez anos em São Paulo. Foi Anju quem conduziu a cerimônia, os exercícios de alongamento e de respiração e as tarefas comunitárias do grupo. Cuidou até do cardápio, baseado em peixes e pão caseiro. A única extravagância foi a pizza do último dia para celebrar o sucesso da vivência espiritual.

A experiência zen-budista de Barra do Sahy reuniu 20 funcionários da Pieracciani, uma consultoria paulistana especializada em gestão da inovação. Criada em 1992, a empresa vem se destacando nos últimos anos por adotar internamente um modelo de administração inspirado em conceitos humanistas e espirituais. Eis o credo da casa: pessoas de bem com a vida transformam o ambiente de trabalho. “E essa transformação só ocorre por meio do autoconhecimento, algo que pode ser estimulado pelos preceitos budistas”, afirma Valter Pieracciani, fundador da companhia e pai da iniciativa de contratar a consultoria monástica de Anju para lapidar seus consultores executivos. Segundo Valter, o retiro no litoral paulista foi tão bem recebido pelo time que deu origem a outra ideia: as sessões individuais com os monges. O “personal monk” é realizado na própria Pieracciani.

Ana Paula Keller, gerente de projeto da consultoria, garante que as experiências aperfeiçoaram aspectos como domínio da ansiedade, concentração, organização e administração do tempo. Seu colega Francisco Tripodi também lembra com entusiasmo do princípio zen-budista do “não eu”. Traduzindo: é a prática cotidiana de se livrar do egocentrismo, privilegiando o espírito de equipe. “São conceitos que valem para a vida e para o trabalho”, diz Tripodi.

O problema é que conversas sobre luz interior e “não eu” ainda causam certo estranhamento no ambiente corporativo, movido geralmente pela objetividade dos números e das tradições administrativas. Existem, claro, empresários e executivos adeptos do budismo, mas a maioria não costuma socializar os ensinamentos. E só os pratica forhttp://www.blogger.com/img/blank.gifa do escritório. Steve Jobs é o exemplo mais famoso desta casta: um cidadão budista, mas um homem de negócios egocêntrico e materialista. O que a Zendo Brasil propõe é algo diferente: a utilização das técnicas do budismo como ferramenta de recursos humanos, uma experiência pioneira no Brasil.

“Aos poucos as empresas perceberão que pessoas de bem com a vida tendem a ser mais produtivas e inspiradoras”, diz a monja Coen, mestre de Anju e fundadora da Zendo Brasil. No caso da Pieracciani, o zen-budismo também ajudou a manter em seus quadros os talentos da irrequieta geração Y. “Nosso programa de retenção não se resume às meditações, claro, mas elas foram importantes para reduzir o nível de ansiedade da galera”, afirma Valter. “O controle emocional traz perenidade à equipe.”

Fonte: Época NEGÓCIOS

sexta-feira, 10 de junho de 2011

O século do EU



The Century of the Self (O século do EU), aclamada série da BBC, examina o surgimento da auto-consumismo, como pano de fundo da dinastia de Freud. Para muitos, tanto política como nos negócios, o triunfo do EU é a expressão máxima da democracia, onde uma verdadeira autonomia foi finalmente transferida para o povo. Certamente as pessoas podem sentir que estão no comando, mas será que estão realmente?

Para saber mais: www.bbc.co.uk/bbcfour/documentaries/features/century_of_the_self.shtml

terça-feira, 17 de maio de 2011

Estudos da compaixão

Existe algo que me incomoda na prática médica e estudo da medicina. Acompanho alunos da área de saúde na Universidade da Califórnia, desde a entrada na faculdade até a formação profissional. Vejo estudantes brilhantes cursando o primeiro ano, cheios de vontade de aprender mais sobre os mistérios das doenças e com curiosidade sobre a percepção do paciente. Porém, já no final do curso, encontro profissionais “gelados”, buscando a solução para o problema o mais rápido possível para se dedicar ao próximo paciente.

Esse modelo, que não acredito que seja restrito aos EUA, ensina ao profissional de saúde a se afastar do paciente, procurando a não-interação ou a ausência do contato pessoal. Isso acontece como forma de defesa, prevalecendo o medo de se relacionar com o paciente ao se aproximar aos problemas dele. A relação médico-paciente acaba se restringindo a doença e tratamento. Talvez isso seja um reflexo da dinâmica da sociedade moderna. O fato é que esse tipo de atitude acaba por afetar o processo de cura, causando confusão de diagnósticos ou mesmo atrasando todo o tratamento. É contra-produtivo.

Meu questionamento parte de um principio da neurociência. Estudos de empatia e altruísmo, tanto em animais como humanos, sugerem que ao nos colocarmos mentalmente no lugar de um indivíduo com determinada dor, somos mais capazes de distinguir e entender o sofrimento alheio. Pessoas com baixo nível de empatia ignoram esse tipo de “dica não-verbal” e não correspondem à expectativa do outro. É interessante notar que esses trabalhos conseguem realmente quantificar o nível de compaixão utilizando métodos de neurociência sofisticados, como ressonância cerebral, ou testes bem simples, como identificar rostos com mais ou menos sofrimento em fotografias.

Mas como treinar os profissionais a ter compaixão? Neurônios chamados de “vonEconomo”, presentes na ínsula frontal do córtex e em parte do sistema límbico anterior, seriam responsáveis pela geração do sentimento de compaixão e consciência social. Esses neurônios são mais abundantes em humanos do que em outros “apes” (superfamília que inclui macacos de grande porte e humanos) e, aparentemente, não existem em outros primatas. Também foram encontrados em elefantes e baleias, o que talvez indique que cérebros grandes usem esses neurônios para conectar regiões fisicamente afastadas (Allman e colegas Ann. NY. Acad. Sci, 2011).

Estudos de meditação com monges budistas permitiram descobrir que com treinamento adequado é possível induzir essas regiões do cérebro, aquecendo-as ou resfriando-as mentalmente. O aquecimento dessas regiões (não necessariamente um aquecimento físico, mas mental, induzindo o metabolismo) conseguiu alterar a compaixão sentida pelos indivíduos quando expostos a faces de outras pessoas sofrendo. A distinção da dor torna-se muito mais sensível. Resfriando essa região cerebral deixaria o individuo com menos compaixão.

Isso significa que podemos controlar mentalmente o nível de compaixão em determinadas situações. Esse tipo de treinamento permitiria que profissionais de saúde aquecessem mentalmente a ínsula frontal do córtex antes de interagir com o paciente, amplificando e reforçando a percepção do sofrimento. Ao final da consulta, o profissional poderia então esfriar a ínsula, desligando-se do paciente e evitando um conflito emocional.

Obviamente, esse treinamento deveria fazer parte do currículo de graduação dos profissionais de saúde que interagem diretamente com pacientes. Infelizmente, não acho que estamos preparados para esse tipo de estratégia. Falta reconhecimento de que a compaixão auxilie no tratamento por parte dos profissionais e mesmo dos próprios pacientes. Enquanto não chegamos lá, penso também que esse tipo de treinamento fosse útil não apenas num contexto de saúde, mas em outras esferas sociais, como debates políticos, ou mesmo no dia-a-dia. Temple Grandin, uma autista norte-americana, conseguiu aplicar a compaixão no design de matadouros de gado para redução de estresse, diminuindo o sofrimento dos animais. Existem outros exemplos de compaixão melhorando nossa qualidade de vida. Pergunto como seria o mundo daqui a 50 anos se conseguíssemos treinar as crianças de hoje a ter mais compaixão?

Publicado originalmente aqui!

sábado, 14 de maio de 2011

Dogen, assunto de vida e morte


“O assunto de vida e morte é de extrema importância, a impermanência é implacável… Hoje à noite, amanhã, pode-se encontrar qualquer tipo de morte, pode-se sofrer qualquer tipo de morte… é tolo não seguir o Caminho de Buddha, ficando ao invés disso passando tempo em vão deitado e dormindo.”


Tendo Nyojo Daiosho ~citado por Dogen Zenji no Shobogenzo Zuimonki, 3:3